Na minha terra, existe um caminho que tenho que atravessar para ir de casa à estação de comboios. Os cinco minutos que demoro a percorrê-lo parecem-me sempre muito mais longos que quaisquer outros. Não que o declive físico seja especialmente acentuado, mas o emocional é rochoso e difícil. De facto, desde pequena que andava por ele todos os dias, pois também liga a minha casa ao ciclo e à escola secundária que frequentei. E quando entrei para a universidade, ou quando trabalhei em Lisboa, também precisei de o calcorrear duas vezes por dia, à partida e à chegada do comboio. Quer antes das seis da manhã quer depois da meia-noite.
É por isso que conheço todas as faces deste passeio. Mesmo agora, que só passo por ele uma vez por mês, não deixo de notar se uma nova amostra de grafitti for desenhada nas paredes das vedações. Conheço-o vazio, com um silêncio nocturno de morte, ou cheio dos gritos das crianças e adolescentes que saem das aulas. Uns histéricos, outros alegres, outros de raiva e frustração. E ele, melhor ainda, me conhece a mim.
Pois cada vez que o atravesso a minha cabeça é invadida por memórias de tempos antigos, quando andava por ele a reflectir sobre o dia passado ou por passar. Durante a curta travessia, não sou apenas eu que estou ali, mas também todas as pessoas que já fui, as suas esperanças e desilusões mesclando-se com as minhas. Num momento, sou a adolescente que saiu da escola a chorar por causa das colegas terroristas. No outro, sou a recém-licenciada que acabou o último exame e anda levemente, no seu rosto espelhadas esperanças de um futuro por cumprir. Mas ao chegar ao fim, sou apenas eu, o resultado de todas essas recordações. Mais uma pessoa à procura do seu lugar no mundo.
Gostei da analogia que fizeste. Algo semelhante acontece comigo quando desço o caminho até ao call center porque fica ao pé da escola secundária onde andei.
ResponderEliminarE mais uma vez, a foto está um máximo! :P
Ah! Acho que também já percorri esse caminho duas vezes, certo? xD