domingo, 4 de novembro de 2012

"- Há de concordar que o que está a dizer é um tanto subversivo...
- Acredita que seja? Não me parece. Se isto é subversivo, tudo é subversivo, até a respiração. Sinto e penso assim como respiro, com a mesma naturalidade, a mesma necessidade. Se os homens se odiarem, nada poderá fazer-se. Todos seremos vítimas de ódios. Todos nos mataremos nas guerras que não desejamos e de que não temos responsabilidade. Hão de pôr-nos diante dos olhos uma bandeira, hão de encher-nos os ouvidos com palavras. E para quê, afinal? Para criar a semente de uma nova guerra, para criar novos ódios, para criar novas bandeiras e novas palavras. É para isto que vivemos? Para fazer filhos e lançá-los na fornalha? Para construir cidades e arrasá-las? Para desejar paz e ter guerra?
- E o amor resolverá tudo isso? - perguntou Abel, sorrindo com tristeza, onde havia uma ponta de ironia.
- Não sei. É a única coisa que ainda não se experimentou..."

Clarabóia, José Saramago

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